Quinta-feira estive no Rio. Um nublado desvario. Na Cinelândia onde toda a história foi escrita sem demora: na pena da boemia. À luz da noite e do dia. E logo mais e além, li a placa que dizia: “Cosme Velho”. Quem diria… E o que me deu? Ta-qui-car-di-a. Vontade de pedir ao taxista que me levasse àquela pista, que ao fim é o túnel do tempo. Deixei passar. Lamento… Essa minha covardia! Medo de perder a hora. O voo. O vão. Mas eu prometo voltar. E visitar o Shangri-la onde o Bruxo escolheu morar. E de lá explicou o universo. Mesmo gago e epiléptico. O saber não é estético (por vezes).

E ainda dentro do táxi, ouvi o motorista dizer “batuta”. Espanto. Escuta: acho que nunca tinha encontrado, cara a cara, essa típica pérola do dialeto carioca. Já ele se assombrou ao me ouvir dizer “toalete”. Olha só: empatamos. No uso de termos estranhos. E das entranhas do carro amarelo vi algo maior que um castelo: um Cristo de redenção. Batuque de coração. Pão-de-açúcar de ternura: doçura. Lagoa linda à esquerda: estreita! Porque muito menor que a emoção daquele momento. Profundeza de sentimento. Cidade símbolo e sonho. Maravilhosa verdade: beldade.

O Rio é como a palavra saudade. Só existe aqui. O Rio é a mulher brasileira: cheia de curvas e sempre de braços abertos. Paraíso ali de fronte, no monte. Desejo dos Dois Irmãos. Sempre tesos. Boquiabertos. O feminino das águas de sua baía, tão cantada em melodia. A devoção à Santa Teresa, onde ainda hei de estar: alto lá! Feliz. Subindo o morro de bonde. Turista sem diretriz. No Rio eu sou aprendiz. E quero um abraço bem largo: no Largo da Carioca, dos Guimarães, das Neves.

Quero conhecer a Lapa, os arcos, os botecos. O malandro que se acha esperto. O beco do Bandeira. Encanto. Ladeira. O Rio é o lírico infinito. O ritmo. O rito. Não vejo a hora de voltar. Pra lá. Deixa estar. Deixa ver. Quero observar a orla, o aterro, a Glória. Os garotos de Ipanema. E o galã da novela das oito: deitado, absorto, nas areias do Leblon. Porque sonhar é bom. Quero andar no calçadão. E me embriagar de ar. De cheiro de maresia. Poesia. E aí sim entrar no mar. Deslizando, devagar. E até lá, aquele abraço: embrulhado em lindo laço.