O editor José Xavier Cortez, o jornalista Lira Neto, eu e, ao que tudo indica, o espírito de Padim Ciço

Agora sou devota de “Padim Ciço”. Não me resta outra coisa a fazer. Explico: na última segunda-feira, fui até a PUC-SP assistir a uma palestra com o jornalista Lira Neto, autor dos livros Maysa: Só numa multidão de amores (Globo, 2007), O inimigo do rei: uma biografia de José de Alencar(Globo, 2006, vencedor do Prêmio Jabuti) e Castello: a marcha para a ditadura (Contexto, 2004). Atualmente, Lira trabalha na finalização da biografia de Padre Cícero Romão Batista.

Com um currículo desses, a palestra de Lira seria uma excelente oportunidade para que eu escutasse um profissional que vem se dedicando, há anos, ao trabalho biográfico. Como sou iniciante na área, meu objetivo era conseguir fazer perguntas, tirar dúvidas e receber informações que pudessem contribuir para o trabalho que venho desenvolvendo.

O mais interessante é que fui à palestra acompanhada do meu biografado, o editor José Xavier Cortez. Isso porque a Editora fica ao lado da PUC e eu tinha acabado de terminar uma entrevista com uma autora da casa. Quando comentei que iria atravessar a rua e assistir a palestra, Cortez não perdeu tempo: “Que ótimo! Palestra sobre biografias? Vou também”.

z2

Manifestação dos alunos da PUC, na última segunda-feira

E lá fomos nós. Mas, ao chegar à PUC, a surpresa: os alunos estavam todos pelos corredores, com faixas e cartazes, dando início a uma gritaria daquelas. Não entendi o que eles reivindicavam porque estávamos em cima da hora e passamos correndo pelo meio deles. Nesse momento, o frio na espinha foi inevitável: imaginei que a palestra seria suspensa. Quando chegamos ao auditório, a decepção: vazio. Mas, como a esperança é a última que morre, sentamos e resolvemos esperar pra ver o que aconteceria. A recompensa levou só dois minutos pra chegar – tempo que Lira Neto demorou para entrar no local.

Uma funcionária da PUC, que, ao que parece, também era estudante, chegou pouco depois pedindo mil desculpas e dizendo que as classes de jornalismo – público principal daquela palestra – estavam todas na tal manifestação-surpresa organizada pelos alunos. E agora, José? Pois é. Lira tinha todo o direito de ir embora. Afinal, fazer palestra para três pessoas? Onde já se viu? É, mas nós vimos. Com a maior generosidade do mundo, Lira saiu com essa: “Se vocês quiserem, fico aqui e a gente bate um papo”. É claro que a gente quis. E é certo que eu quase morri de felicidade. “O papo” durou cerca de duas horas. Consegui fazer vááááááárias perguntas, tirei dúvidas e ainda pude ouvi-lo discorrendo apaixonadamente sobre seus livros, metodologia de trabalho, dificuldades específicas sobre o fazer biográfico, “causos & bastidores” etc, etc, etc.

cícero

Padim Ciço, que, ao que parece, tá me dando a maior força

Sensacional é a única palavra que me ocorre pra dizer o que foram aquelas horas em que tive uma espécie de consultoria/assessoria particular sobre a arte de narrar histórias verídicas. Jamais conseguirei agradecer Lira à altura. Seus relatos sobre a biografia inédita de Padre Cícero, então, foram um deleite! Fiquei curiosíssima e, assim que o livro chegar às livrarias, estarei na porta, esperando. É nítido que Lira é apaixonado pelo que faz e, por isso mesmo, fala sobre seus biografados com um entusiasmo gigantesco.

Mesmo assim, não deixou de expor as dificuldades que a atividade impõe: pesquisas intermináveis, quilos de entrevistas, pilhas de documentos a serem checados/cotejados, extremo jogo de cintura para lidar com vaidades, medos, opiniões, frustrações e expectativas dos biografados (quando vivos) e também de seus familiares, amigos, colegas de trabalho. E, ao final, ainda há a receptividade do mercado, dos editores, dos leitores, dos críticos.

Sei que estou apenas começando. Mas, ao que parece, Padim Ciço está ao meu lado nessa empreitada. Amém. Amém. Amém.