(Uma tragédia em três atos)

 

I ATO

Tudo estava sereno na terra,
até você decidir me deixar.
Ao acordar e ver a nuvem vazia,
logo entendi:
você finalmente desistira de me domar…

 

II ATO

Fiquei possessa com a sua covardia
e gritei sob a forma de trovões!
Imediatamente, planejei minha vingança:
enfiei a mão no peito
(que já ardia de maneira insuportável)
e de lá arranquei milhões de raios.
Autoritária, ordenei que eles
descessem à Terra.
Pior: exigi que eles te partissem
em mil pedacinhos.
Mas, ao atravessarem a atmosfera,
eles adquiriram
vontade própria
e preferiram, apenas,
te iluminar.
Viraram clarões que te acenam,
luzes bem fortes que encenam
os flashs do meu amor…
Então, virei tempestade,
um tormento de saudade,
chuva forte e ventania,
que desemboca no mar…
Esse sim, um bom amante,
sempre disposto e ofegante,
sem medo de transbordar…

III ATO

Mas mesmo assim, ainda penso
no poder do teu abraço,
na doçura do teu beijo,
nesse amor que não tem fim…
Então, do mar me despeço,
subindo aos céus novamente
pra me desfazer em raios
quando o meu peito sangrar…
E, assim, vou ferindo a Terra
nessa minha fúria cega
que é filha da dor de amar.

Goimar Dantas
São Paulo
25/10/07